sábado, 10 de outubro de 2009

Dicotomia (a)sentimentalista



Isto que lê, talvez com olhos trêmulos ou mesmo entusiasmados...
Bobagem, verdadeiramente não sei como lê-me, como qualquer um lê-me, e
parte disto é motivo para a trava na garganta, as paredes de concreto que
desabam, vez em quando, sobre meu peito.
Qualquer um apontaria minha fraqueza, ahh, mas acredite, vai além da
fraqueza. A fraqueza é apenas o que é, somente isso, sintomaticamente dentro
da normalidade.
Não! O que me acomete não pode ser normal, tenho a fome de um titã,
daqueles que devoram os filhos, e por vezes, sem aviso prévio ou
acontecimento anunciativo, perco tudo, e quando digo tudo me refiro a tudo
mesmo, tudo o que importa, essa sopa sinestésica que chamamos afeições.
Ai sina maldita, não se contentou deus em fazer-me um deficiente
sentimental ou um sentimentalista digno de pena? Pois, analisando por fora o
dado problema, a pena é encaixável em ambas possibilidades. Maldita sina,
queria a estupidez dos amantes, a pieguice dos depressivos...ahh, isso tudo
irrita! O ódio para com os outros resolvo alimentando pragas, repúdios,
escárnios. E quanto ao ódio próprio? Aquele sentimento puro e sincero, que a
meu ver é pouco mais íntegro que o amor próprio, ligeiramente entorpecido por
um placebo chamado ego. Mas, se não me interessa dar cabo da vivência,
método pouco prático, claustro intelectual e experimental, o que me resta?
Viver? A vida tem sido varizes latejando em dias quentes, mas em raras
exceções tem sido o êxtase de quem para e descobre: “nossa, essa é a razão
da vida!”, bestificado por ter entendido algo que é estupidamente
compreensível, como o sentido da morte é tirar e o sentido da água é matar a
sede, ignorando as outras possibilidade que acabam, analogicamente ou não,
tendo o mesmo sentido, um sorriso lhe surge à alma e tudo fica calmo e puro,
como um sedativo ministrado com álcool.
Compreende o que sinto? É como ter deus no próprio corpo, com todos os
amores e misérias os quais só cabem a ele, regente de tudo, é como tentar por
na humilde cavidade de meu peito o coração de um elefante.
Vem na noite de assalto, um gago sentimento engasgando, aterrador e com
forte gosto, como o gosto duma azia de fome, morder-me os lábios, descer-me
arrastado, lacerar minhas unhas, meus dedos, travar-me, então, a garganta...
Sufocar-me em soluços.
Olha-se uma furna profunda, mas a noite, essa que é em mim e é na rua,
cega qualquer coragem, qualquer vestígio, qualquer investigação... é dor que
dói para o sempre, sabe-se o que o peito é e é tudo negado... Sentimento, filho
bastardo.
Foram noites essas veladas, e o querer esquecer não cancelou efeitos...a
falta de fé não apagou a condenação, e se estou cá, já condenado, nada de
pior gosto e mais adequado que a fumaça que renova-se num teto arqueado.

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